Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

UMBERTO ECO

 UM HOMEM À FRENTE DE SEU TEMPO


Com a ousadia dos que admiram, resolvi falar sobre Umberto Eco. Assim, sem maiores cerimônias, sem maiores pretensões,  a não ser lembrar como tomei conhecimento de sua existência no mundo das letras; o porquê de minha admiração; as contradições que suscitaram em mim o contato com alguns de seus títulos e, mais especificamente, sua obra prima:" Il nome della rosa".*Imagem: torino.reppublica.it. 
Em meados de 1995 me candidatei a uma das vagas ofertadas pela UFPB - Universidade Federal da Paraíba, através do CCHLA – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes- Departamento de Filosofia, para o Curso de Especialização Em Direitos Humanos, obtendo sucesso na empreitada, garantindo minha participação.* Imagem: apostilasopacoeconcursos.com.br

Nesse contexto abriu-se um universo de oportunidades, trazendo um leque surpreendente de conhecimentos e quebra de paradigmas. Não me considerava uma neófita. No ano de 1977 me graduara, na mesma instituição, em Ciências Jurídicas e Sociais, tornando-me Bacharela em Direito. O curso em si, amei-o desde o primeiro contato. Me identifiquei com a Profissão que abraçava como meta de vida e, assim como a Bahia deu a GIL régua e compasso, bons professores me municiaram com o indispensável para iniciar bem, o meu caminho pelo mundo jurídico.* Imagem: radios.ebc.com.br. 


Decidida, militante e multiplicadora do Direito, já travara conhecimento com aquela semente plantada pela Revolução Francesa e me apaixonara pela defesa dos Direitos Humanos. Ter sucesso na minha pretensão, teve um gostinho diferente. Retornar à Academia era algo fantástico. Adulta e com uma visão própria, fruto de embates diários na defesa de Direitos de terceiros, fazia conjecturas sobre o que iria experimentar naquele universo maciçamente de jovens. *Imagem: atrevidauol.com.br.


Muitos autores passaram pela bibliografia oficial e extraoficial do Curso. Lógico que, após tantos anos, seria pedir demais lembrá-los. Entretanto alguns ficaram comigo para o resto de meus dias. Lembro da impressão causada por Norberto Bobbio e A ERA DOS DIREITOS; Gilberto Dimenstein e A DEMOCRACIA EM PEDAÇOS; Hanah Arendt e A CONDIÇÃO HUMANA; Nietzsche e sua obra PARA ALÉM DO BEM E DO MAL  e, de maneira especial, Umberto Eco. A princípio de modo conflitante, angustiante, com o best seller O NOME DA ROSA, traduzido por Maria Celeste Pinto e, ainda, de forma surpreendente, pela simplicidade e praticidade de um Manual destinado a alunos  que buscam a técnica, para elaboração de trabalhos acadêmicos: COMO SE FAZ UMA TESE (Todos os títulos em caixa alta para realce). Mais uma surpresa.


Umberto Eco, foi um homem à frente de seu tempo. Não demonstrava preocupações com a opinião daqueles a quem não emprestava uma certa deferência. Em algumas obras acusou a Igreja Católica, notadamente, de não permitir aos teólogos uma reflexão livre sobre os textos colocados à disposição e, bem assim, no que concernia à produção literária. Sua crítica, aos textos de São Tomás de Aquino, versa sobre a ausência da referida reflexão. * Imagem: www.pinterest.com.


Um romance, “O nome da rosa”, foi sua obra prima. A leitura desse livro me trouxe encantamento e graves questionamentos de ordem ética, religiosa e moral. O romance, devorado durante o curso, faz um encontro fascinante de assuntos que agradam sobremaneira. Nele temos a Igreja Católica cercada de dogmas, mistérios e proibições, além de conflitos éticos, morais e religiosos, tendo por cenário o ambiente medieval europeu. *Imagem: www.fnac.pt .


Maravilhada na mesma proporção que horrorizada, com o entranhado tema ofertado no livro, não sabia se o fechava, jogava para bem longe de meu olhos ou se parava tudo e sorvia de uma só vez, o que ali se apresentava. Sei, apenas, que na medida em que avançava a leitura, crescia dentro de mim uma sensação de estranheza, desconhecimento. Por mais que eu justificasse a impossibilidade de trazer para os anos noventa a Igreja medieval e, levar para o lado romanesco, me repugnava os quadros que minha mente teimava em produzir.* Imagem:www.flickr.com .



Nesse incompreensível debate, entre a histórica igreja por mim conhecida e, a sugerida na obra de Umberto Eco, a católica fiel se chocava com a leitora que se mostrava ávida pela próxima página. A literatura e o conhecimento passado pelos livros de autores católicos, especialmente Santo Agostinho, entraram em ferrenha disputa com a tese abordada pelo autor. Também, o meu pouco conhecimento sobre Filosofia não tinha o condão de criar frestas em minha Fé, de pronto estranhei a negativa referência à Filosofia Pagã, especialmente a Aristóteles registrada no livro e  mostrada sem rodeios no filme. * Imagem: es.slideshare.com.br.


Nessa versão do que pode ter acontecido, as luzes que iluminavam o personagem do investigador humanista se estendem sobre o leitor transformado em espectador. É impossível ler “O nome da rosa” e não refletir sobre as proibições ao conhecimento; a descrição das relações dos religiosos entre si e, daqueles com a comunidade circunvizinha, resultantes, talvez, da clausura; a pseudo necessidade de se fazer justiça, atribuir culpas, mesmo sem haver delitos ou forjando-os; na ingenuidade de uns e a maldade de outros; na crueldade, no erotismo, na heresia. *Imagem: armonte.wordpress.com.

Passados alguns anos pude potencializar meu horror, meu fascínio, minha admiração pela impecável materialização do romance tantas vezes lido. A sétima arte nos trouxe “O nome da Rosa”, com impecável interpretação de Sean Connery na pele do frade franciscano Guilherme de Baskerville, misto de investigador, iluminista, representando o intelecto renascentista. A atitude humanista e racional do Frade, colide com a conjuntura filosófico-teológico das lutas que ocorrem no convento em que se desenvolvem as ações. * Imagem: www.luizberto.com .


A filmagem, na Alemanha, nos oferta " um mosteiro"  com uma magnífica construção, datada de 1136, com realce para  sua biblioteca fantástica cujo caminho era um labirinto e, o prêmio para os que conseguiam percorrê-lo, a morte. O filme, mostra com riquezas de detalhes que na abadia o conhecimento era destinado, com exclusividade, aos escolhidos. A ignorância revelava-se um meio de dominação, violência e perversões. *Imagem:lainhacarlos.blogspot.com


Umberto Eco seguiu adiante sem medo de cobranças. Continuou sua trajetória de autor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo encantando e intrigando pessoas em todo o mundo. Colecionou o sucesso sem demonstrar apego a tal. Fiel às suas convicções e não menos surpreendente, definiu o Papa Francisco como “o papa da globalização” e opinou que representa “algo absolutamente novo na história da Igreja Católica e, talvez, na história do mundo”. *Imagem:elpais.com.br


O dom de arrancar os leitores de áreas de conforto, a capacidade de instigar o pensamento,  facetas da genialidade que marcou Umberto Eco.  Certamente o mundo amanheceu mais pobre no quesito genialidade na sexta feira 19 de fevereiro de 2016. A morte de Umberto Eco, logo após a publicação de mais um livro, deixa uma lacuna difícil de ser preenchida. *Imagem:cinefreak.com.br


Ser transportada a outra versão, daquilo que é secular, não passou ao largo. Umberto Eco com certeza não precisava, mas arrebatou uma fã.
Obrigada por lançar contradições, incertezas, razões e luzes num terreno aparentemente isento de dúvidas, onde a total aceitação mostra a passividade dos que se conformam em assumir posições alheias, sem indagar-se, sem perturbações. Com esse fantástico autor, a tese, antítese e a síntese, tornam-se exercícios obrigatórios aos leitores e são um atrativo a mais. *Imagem:seguraorojao.wordpresscom.

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