Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

terça-feira, 29 de julho de 2014

VIVER A VIDA



 Tempo, tempo, tempo.


Existe tempo para tudo. Tempo para amar, para sorrir, chorar, trabalhar, brincar, conversar semear e colher. Há uma tendência natural de se achar que a colheita é sempre proporcional à semeadura. Ah, quem dera. Seria perfeito,  mas pobres tolos, nós, humanos, precisamos ter consciência de nossas imperfeições, nossa fragilidade e finitude.


Não falo assim com desânimo ou mágoa, pelo contrário, apenas faço memória do que tenho observado ao longo de minha existência, ora feliz, ora inquieta, ora saudosa, mas sempre olhando adiante, repesando atitudes e formas de encarar os acontecimentos, aproveitar as oportunidades e enfrentar novos desafios.


Tem sido assim. Graças a Deus não me furto às novidades. Às vezes a minha curiosidade me trás de volta uma criança a um só tempo atirada e tímida, desafiadora e conservadora que punha nas figuras dos pais toda a crença que a idade lhe permitia. Sim, porque  no passado nos acreditávamos em nossos ídolos particulares. O herói, a heroína eram os pais, os tios, os amigos próximos de nossas casas que com suas vidas suscitavam em nos a vontade de seguir os mesmos passos.


A mãe, amorosa, amiga e advogada que se colocava entre os filhos e o pai, defendendo com equilíbrio e amor as aspirações de uns e os cuidados do outro. A mãe cujas preocupações sempre transcenderam o que se estabeleceu por atenções maternas. Que jamais mostrou cansaço embora nos limites de suas forças, que nunca disse não se havia uma só chance de dizer sim. Frágil na compleição, gigante na atuação.


E a figura paterna? Aparentemente séria, dura. Bobagens. Derretia-se com os filhos, proporcionando-nos amor, carinho, segurança e certeza de que jamais estaríamos sós, tal a confiança que nos inspirava. Às filhas, somos três, incutiu a ideia de que o melhor marido seria a capacitação profissional que nos daria a condição de gestora de nossas vidas. Meu Pai, uma pessoa simples com uma brilhante visão. Acertou em cheio e nos ensinou a pescar. Não era Baiano, era Paraibano de Sapé, nos deu régua e compasso para traçarmos o nosso caminho pela vida. Obrigada meu Pai!

Era assim o meu, o nosso mundo provinciano e puro.  Entre nós pessoas se sobressaíam, no vizinho o ideário do jovem político que encantava multidões com seus discursos e figura carismática, sempre sorrindo, sempre muito bem vestido, sempre cercado de admiradores. Sobressaindo e levando consigo o nome do Município numa carreira brilhante como Legislador Estadual.


E o que dizer daquela jovem professora, bonita, dona de uma linda voz e a quem as mulheres da família atribuíam lindos seios e que, além de tudo, era educada, amável e querida por todos. Um sonho estético para muitas.

Havia, ainda, aquela figura carismática, partidário de política contrária – inteligente, sagaz e sempre com uma saída à mão. Enlouquecia os seus adversários e conquistava facilmente incautas dispostas a se deixarem entorpecer. Matreiro seduzia multidões e traçava uma batalha imaginária entre o “tostão e o milhão”. Impossível não admirá-lo


 Não faltavam as damas. Uma delas, maravilhosa, cantora lírica, dona de uma oratória de fazer inveja aos muitos pseudos políticos de nossos dias. Uma inteligência rara, capaz de se sobressair num mundo eminentemente masculino, em escolhas quase que tabus.  À sua condição de mulher potencializada num mundo de há pelos menos cinquenta anos, sendo a um só tempo negra, separada do marido, professora num Estado pobre, preconceituoso e, mesmo assim venceu por seus próprios méritos. Com certeza construiu ao seu redor uma legião de simpatizantes entre os quais me incluo.


E a beleza, também construía e sempre construirá seus castelos. É claro, principalmente quando vista por pessoas novas, numa situação inversa a de hoje quanto à liberdade e aos costumes. Nosso universo era infinitamente menor. Não existiam Shoppings Centers,  computadores, pelo menos  os domésticos.  Igualmente,  as restrições eram bem  maiores, as amizades eram monitoradas e os olhares eram percebidos rapidamente pelos guardiões da moral e dos bons costumes. Muitos deles atentos, azedos, autoritários  e solitários.

As roupas, quando muito, insinuavam. Sugeriam formas e atiçavam a imaginação, multiplicando as possibilidades do que efetivamente ficava fora do olhar das pessoas. Pois é, eram muitas as criaturas que provocavam suspiros. Rapazes e moças. Lembro bem. Algumas famílias se sobressaíam, as moças eram belas, com pele impecável, bem feitas e cheias de vida.


Nada de maquiagem excessiva, cabelos cheios de tinta e transformados em palha pelas escovas definitivas e uso constante de chapinhas. Não era uma ou duas famílias, a minha cidade era cheia de gente bonita. Uma das moças era sósia de Raquel Welch, suas irmãs eram bonitas e seus irmãos... uns pedaços de maus caminhos. A beleza tinha outra dimensão e apresentação.



Os rapazes se apresentavam com outra roupagem. Uns impecáveis, cabelos arrumados, cheirosos e sonsos. Sempre educados e aparentemente comedidos. Tudo era uma festa para os olhos. Um batom mais escuro, uma roupa mais marcada, um joelho que aparecia ao sentar,  um sorriso e a mágica atenção conseguida com o riso num tom mediano a cujos olhares voltavam os jovens, interessados na dona daquele som. Sempre fui “expert” em sorrir, rir, conversar e trazer para mim a atenção que não conseguia pela beleza física. Jamais fiquei sozinha num canto de parede, sempre cultivei amigos e admiradores.


Nas festas, dançava a noite toda. Brincava, sorria, ria e conversava. Sempre fui assim. Exceto quando com namorado ciumento e que despertava em mim a sensação de estar perdendo algo maravilhoso, o convívio saudável com amigos e amigas. Mas cultivei um triste hábito de namorar por anos. Meus namoros, não sei porque sempre, duravam. 


Casei. Não uma, mas duas vezes. Por vinte e cinco anos vivenciei a condição de divorciada. Como sempre busquei enfrentar os reveses com bom humor, as dificuldades com trabalho, as tristezas com esperança de dias melhores, a solidão com o amor de meus filhos amados, suas histórias pessoais e, claro, namorando quando podia, afinal ninguém é de ferro.


OS FILHOS, POSSIVELMENTE O MELHOR DE MIM. São dois que se transformaram em seis. É uma matemática simples, adição de parcelas de amor e um total cheio de alegria e graça. A história começou com MEU FILHO QUE ME TROUXE SUA MULHER E DUAS FILHAS, ou seja, ganhei mais três filhas. A MINHA FILHA CAÇULA, FILHA ÚNICA, ME TROUXE MEU GENRO MARAVILHOSO, resultado: mais um filho. Agora torço para ser mãe mais uma vez através de minha filha, quando eles decidirem, claro. Sou feliz, nasci nua, estou vestida; chorando, estou sorrindo; sozinha, hoje me vejo cercada de amor e carinho.


Se colhi o que plantei não posso afirmar. Sempre acho que recebo mais do que mereço. PASMEM VOCÊS, RECEBI, EM PLENA MATURIDADE UM PRESENTE PARA ACALENTAR A MINHA INTIMIDADE, MEU VIVER COMO MULHER. MEU MARIDO. Pois é, há tempo para tudo nesta vida. O negócio é viver e não ter a vergonha de se feliz...

quinta-feira, 24 de julho de 2014

E NO FUTEBOL?


Dormia a nossa pátria mãe tão distraída



Difícil abordar esse assunto. A Copa ficou para trás. Nossos sonhos também. Pois é, não há como ignorar. Perdemos. Não, não perdemos um jogo, a Copa ou uma competição esportiva, perdemos um padrão comportamental. Ficamos órfãos de uma certeza que habitava o coração de cada brasileiro, por mais cético que fosse. Tornamo-nos apenas mais um entre os países arrasados, humilhados, enxovalhados naquilo que é orgulho nacional.


O mais estranho nesse vexame é que “sabíamos”, há anos, que o nosso time estava pronto.  É. Pronto e acabado. Nada mais havia para ser feito. O nosso comandante, com todo o rigor e vigor que impunha aos seus comandados, jamais admitiu interferências de quem quer que fosse. A ótica do técnico coincidia com a de milhões de inocentes: “a seleção não necessitava reparos, adequação aos novos tempos”. O futebol, desde a Copa das Confederações, aparentemente, teria parado no tempo e no espaço, para ver a banda passar.


Pouco importa milhões de coração batendo a mil, o tum tum tum em descompasso, as lágrimas das crianças, o choro solitário dos que se envergonharam com a performance da seleção penta sem concorrentes no número de vitórias, em ocasiões semelhantes. Restou-nos um gosto amargo de decepção. A Pátria de chuteira caíra de quatro. Não que acreditássemos ter uma seleção melhor que a de 1998  quando, o sorriso amarelo de Ronaldo nos derrubou diante de uma arrasadora França com um fatídico 3 a 1.


Como imaginar tamanha tristeza? Como acreditar numa sucessão relâmpago de gols surgidos não da competência do rival, mas da indolência de nossos jogadores? Como explicar aos nossos netos que nossos heróis morreram todos e não foi por overdose?


Ah! Se tudo fosse como dantes quando a canarinha impunha respeito e certo temor; quando, por ser o Brasil o único País a participar de todas as Copas, nos sentíamos os donos da bola; quando jogar futebol era arte e os passes sucediam-se como mágica numa hipotética figura geométrica traçada pela genialidade dos jogadores. Que saudade daquele frenético vai e vem, onde o Brasil e os brasileiros pulsavam num só ritmo.


O passado não admite mudanças, nada nele pode ser removido. Graças a Deus, senão, quem sabe, poderíamos dormir penta e acordar a ver navios, indagando sob nossos títulos e recebendo  silêncio por  resposta. Não pensem que sou fantasiosa, jamais, sequer em devaneios, vi a minha seleção massacrada, apanhando de cabeça baixa como se estivesse diante de algo fatal  que não admitisse reações.  


Como sempre, surgem as teorias destinadas a justificar, a informar e descobrir ratos no porão. Malícia, insensibilidade, desejo de frustrar a possibilidade de renascimento, não sei. Apenas percebo que é mais fácil produzir mirabolantes versões, esperar suas consequências que aceitar falhas técnicas e estruturais sinalizadas repetidas vezes.


Diante de sucessivas "Teorias da Conspiração" fazemos memória da angustiante indagação de Hamlet: “Ser ou não ser eis a questão? Será mais nobre suportar na mente as flechadas da trágica  fortuna, ou tomar armas contra um mar de obstáculos e, enfrentando-os, vencer?” E para nós? Será mais fácil dar crédito a tantas histórias que inundam o imaginário popular que aceitar a fragilidade da nossa seleção?



É evidente que não podemos ser ingênuos ao ponto de imaginar futebol como um simples esporte. Não dá mais para acreditar em pessoas que gostam, tem talento e jogam. Há muito que ser jogador, empresariar, dirigir e presidir times ou instituições afins, transformou-se numa incrível fábrica de fazer dinheiro. 

As cifras astronômicas, os meninos  metamorfoseados em multimilionários, as transações que se superam a cada dia, a sede de lucros, os empresários do meio, as potências em forma de federações “mantenedoras” do esporte, tudo isso concorre para que haja margem, possibilidades reais/concretas,  para os mais impressionantes esquemas cujo objetivo é $$$$$$$$$$$$$ faturar.
 


Não é tranquilizador afirmar que naqueles terríveis 90 minutos a seleção foi de uma incompetência sem precedentes. Infelizmente os valores individuais ali posicionados não conseguiram superar as individualidades. Cada um tornou-se uma ilha, uma barreira intransponível, impossível de ser vencida pelo conjunto. Não há material de provas e sim evidências de que a fogueira das vaidades parece ter consumido a tudo e a todos, exceto, a FIFA.

A poderosa FIFA deixou claro não ter vindo ao Brasil para ver jogos. O faturamento superou as expectativas e sugere ter sido mais que suficiente para que, ao deixar o Brasil, Joseph Blatter declarasse ter "o País realizado a Copa das Copas".
 


Infelizmente o futebol brasileiro não acompanhou “o sucesso”,  o sol brilhou, verdadeiramente, para a Alemanha. Restou-nos o cancioneiro, a música a nos consolar: " Se sofri ou se chorei, o importante é que emoções eu vivi." É verdade, foram muitas. A emoção de ouvir milhares de vozes cantando o Hino Nacional, a alegria de ver rostos cheios de paixão, esperança...