Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

quarta-feira, 28 de março de 2012

UM POUCO DE NIETZSCHE

Breves Considerações -


Como falar em Nietzsche? O que dizer sobre ele? Suas idéias, sua vocação para a negação, sua sempre presente necessidade do contraditório. Com Nietzsche nada é comum, nada é fácil. A razão, a virtude, a felicidade, a fé são defrontadas com a irracionalidade,  a inferioridade, a potência e a crença na mente do homem.

Ler Nietzsche é ter a certeza de que nada é o que parece, os mais arraigados conceitos, as certezas, as verdades, nada disso importa, não há esperança de podermos coordenar pensamentos, alinhar hipóteses na tentativa de se obter conclusões. Com ele se tem o inusitado, o irreal, o impessoal, o impensável como algo que nos invade, nos causa repulsa mas, simultaneamente,  ocupa o nosso intelecto, torna-se recorrente e, via de regra, implanta uma  dúvida, ou a idéia do absurdo, da recusa e/ou da curiosidade.

O pensamento de Heráclito, Empédocles, os ideários Apolo e Dionísio, a riqueza do nascimento póstumo, do devir, do eterno retorno, em Nietzsche tudo segue seu curso, entretanto, pode ser como um fogo que tudo consome; um rio caudaloso que tudo arrasta ou  uma nevasca que congela, a única coisa que não se pode  negar é que deixa rastros, conquista adeptos.

Em suas obras repercutem a negação do valor moral, do cristianismo e da fé cristã, das verdades estabelecidas e, também,  a fixação dos grandes erros da filosofia.   Assim, podemos ter uma amostragem da apreensão desses valores e a expressão de seu pensamento -  de desafio à moral pelo teor de suas obras -, sempre voltadas a desqualificá-la conforme seu desejo.  Em 1886 tornou-se conhecido, quando o crítico dinamarquês Georg Brandes passou a elogiá-lo publicamente.

SOBRE O HOMEM –


A negação da fé
 FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE, filósofo alemão, nasceu a 15 de outubro de 1844, em Rocken, nas proximidades de Leipzing, Prússia (  Alemanha),  filho de  Karl Ludwig, nascido numa família de tradição Luterana, cujos avós eram Pastores; até sua adolescência freqüentava a Igreja e  dava indícios de que também se tornaria pastor. Morreu aos 25 de Agosto de 1900, aos 55 anos de idade.

Mas será isso mesmo?   Em Nietzsche há sempre algo a ser revisto. Apontado como de nacionalidade alemã, observa-se, contudo, que na época de seu nascimento havia o Reino Prussiano, que era um reino alemão nos idos de  1701 a 1918, sendo, a partir de 1871 o mais importante Estado membro do Império Alemão e onde se localizava a urbe de Rocken, local de nascimento do filósofo .

Aluno brilhante
Somava, esse reino, quase dois terços da área alemã. Dentre os historiadores vamos encontrar aqueles que atribuem a Friedrich Wilhelm Nietzsche a nacionalidade Prussiana. Para tornar a história ainda mais nietzscheana ele, que assume o devir, surpreende  e renuncia a sua cidadania, misto de Alemã  e Prussiana, assumindo a cidadania Suíça.

Aluno brilhante, pré-adolescente tranqüilo, na adolescência começa a afastar-se dos ensinamentos religiosos. Posteriormente, abraçando a filosofia, estudou na Universidade de Bonn, transferiu-se para Universidade de Leipzig, local aonde inicia a leitura de Shopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação) e, aos 24 anos é nomeado professor de Filologia da Universidade de Basiléia.


Nietzsche, na juventude, adota os conceitos que motivam grande parte dos alemães, almeja uma nação unificada e credita à Alemanha uma cultura superior a todas as outras; nesse período cultua seus heróis, afina-se com a causa alemã e a realpolitik de Bismark, aprova e defende  à guerra contra a Áustria, em 1866 e, ainda nesse mesmo ano se envolve no processo eleitoral para o parlamento; em sua febre nacionalista, alista-se, voluntariamente,  como enfermeiro,  na guerra franco-prussiana deflagrada em 1870. A violência, a dor existente no palco do conflito o impressionam, piorando seu estado de saúde e motivando o seu desligamento num curto período de dois meses. 

A contemplação
 Em Nietzsche há um turbilhão de opostos. A elaboração intelectual de Apolo e de Dionísio, habitando um mesmo homem, exige e revela genialidade. Em Dionísio, o filósofo, simbolizou a natureza, o excesso e a irracionalidade: o homem, seus vícios, desejos e paixões,  fazendo o contraponto com Apolo, a quem atribui o espírito da ordem, da racionalidade e da harmonia intelectual, que seria o homem bom, sereno, contemplativo. 

Há nesse modo de pensar uma interrogação que paira no ar. Quem era o verdadeiro herói, Apolo ou Dionísio? A quem imitar na arte e na vida?

Admirava Hõlderlin, Freud, Voltaire, Goethe a quem considerava o último grande alemão.  Demonstrava profundo respeito e apreço por Shopenhauer, Wagner e Rilke. Sua exaltação a música de Wagner, antes de polemizar com esse, bem como o resgate dos mitos primitivos do povo germânico, tiveram o condão de suscitar na ideologia nazista a tentativa de apropriação de seu pensamento, de sua filosofia, caracteristicamente assistemática e fragmentada, também, poética e crítica.

Lou Andreas-Salomé
 Numa das poucas alusões  à figuras femininas, quebrada essa ausência em sua vida apenas pelo forte elo familiar com sua mãe  e sua irmã, tem recusado seu pedido de casamento em duas ocasiões. Corria o ano de 1822 quando conheceu Paul Rée e Lou Andreas-Salomé, uma jovem russa, culta e de espírito vivaz,  pela qual apaixona-se acreditando ser correspondido. Pede-a em casamento e é recusado, apesar de receber da amada a certeza de sua amizade, do desejo de estar com ele, privar de sua companhia. Foram amigos.

Após a decepção – no aspecto amoroso, visto que por duas vezes tentara, inutilmente, constituir laços matrimoniais -, numa temporada em Nice,  começa a escrever sua obra " Assim Falou Zaratustra". Nietzsche não para de escrever, alucinada e continuadamente. Este momento finda brutalmente em data de 3 de janeiro de 1889, quando é acometido por mais uma crise de loucura, que o acompanhará pelo resto de sua vida.  É colocado sob a tutela da sua mãe e sua irmã.

Em crise
No princípio desta insanidade, Nietzsche encarna sucessivamente as criaturas míticas: Dionísio e Cristo, registrando esses acontecimentos em estranhas cartas, caindo, após cada delírio, em um mutismo quase completo, jamais conseguiu fugir a esse ciclo, até que sobreveio a  sua morte. 

Alguns dizem que foi contaminado por Sífilis, todavia e conforme informação de pesquisas recentes, há uma indicação de que fora acometido por um cancro no cérebro, que possivelmente teve sua origem na Sífilis.

Com o seu falecimento e, segundo um plano previamente estabelecido por ele, datado de 17 de março de 1887,  sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche e Peter Gast, querido amigo do filósofo,  realizaram uma compilação de fragmentos póstumos para editar a obra titulada  “ Vontade de Poder”.

SOBRE A OBRA –


Assinatura
Uma incógnita, incompreendido por muitos, intensamente admirado por anunciar a libertação através da visão filosófica, reconhecido por todos quantos se aventurem na preciosa viagem rumo ao conhecimento,  Nietzsche é um dos  mais discutidos filósofos da atualidade.

 A sua inigualável tendência ao questionamento resultou em obras que são simultaneamente e, segundo a disposição literária de quem as  busca, imperdíveis e dispensáveis; geniais e confusas; incoerentes e pragmáticas; densas e mordazes; críticas e poéticas; terríveis em suas conclusões e belas em seu conteúdo e composição.

Sua obra, eminentemente, mas não exclusivamente filosófica é diversificada, uma vez que o filósofo se permitiu fazer reflexões e documentá-las, em maravilhosas criações, entre outros, no campo da Psicanálise, Religião, Educação, Sexualidade, Política, Arte, Moral e Estética.

Foi um gênio, capaz de afrontar e “desmistificar”, segundo um raciocínio pessoal, acepções incondicionais em torno de Deus, da verdade,  da razão, da moral, da fé;  perseguindo, incessantemente, o  desligamento  do homem em relação à metafísica.

Escreveu, em alguns momentos, de forma frenética e confirmadora de sua doença. A sua realidade parecia prenunciar o quanto seria efêmera a sua vida. Curta é certo,  mas absolutamente produtiva.

Deixou um legado fantástico com as seguintes publicações:

  • "O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música", iniciado em 1871 e publicado em 1872. Neste ano escreve e publica um mini discurso intitulado “A Kusta de Homero”;
  •  1873 -  escreve "A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos" e a "Introdução Teorética sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral" e tem sua primeira crise;
  •  1874 - são publicadas a "Segunda Consideração Extemporânea: Da utilidade e Desvantagens da História para a Vida", e a "Terceira: Schopenhauer educador";
  •   1876 - surge a "Quarta Consideração Extemporânea: Richard Wagner em Bayreuth"; 
  • em 1876 lança "Humano, demasiado Humano";
  •  1879 - redige duas continuações a "Humano demasiado Humano", as quais denomina: "Miscelânea de Opiniões e Sentenças" e "O andarilho e sua sombra", essa última publicada em 1880;
  •  1881 - publica "Aurora"  e tem a percepção sobre o "Eterno Retorno";
  • 1882 - escreve "A Gaia Ciência" ;
  •  No período de 1883 a 1885 - produz "Assim falou Zaratustra"; 
  •  1886 - surge "Para Além de Bem e Mal" ,  escreve os intróitos ao primeiro e segundo volumes de Humano, demasiado Humano, O Nascimento da Tragédia, Aurora e A Gaia Ciência, assim como a quinta parte deste livro;
  •  1887- Redige "O Niilismo Europeu" e publica "Para a Genealogia da Moral";
  •  1888, trabalha freneticamente e produz "O Caso Wagner, Crepúsculo dos Ídolos, O Anticristo, Ecce Homo e elabora Nietzsche contra Wagner e Ditirambos de Dioniso;
  •  1889, em meio a grandes crises passa a assinar como Dionísio ou como o Cristo;
  • 1890- Deixa a clínica de Jena sob a tutela da família. 
  • 1900- Morre a 25 de agosto em Weimar.
Elisabeth Förster-Nietzsche

A sua produção literária é rica e, fazer justiça a tal acervo consumiria anos de nossa atenção,   numa tentativa de entendê-la ou, pelo menos, no mínimo, conhecê-la no sentido literal.

Não há neste texto uma visão aprofundada da obra desse filósofo ímpar, o nosso percurso é de simples amostragem, sem maiores pretensões, em doses terapêuticas, para tanto é feita uma abordagem em idéias e valores recorrentes, com auxílio de Crepúsculo dos Deuses (1888), Assim falou Zaratustra (1883 a 1885), Genealogia da Moral (1887) e  Ecce Homo ( 1888 - publicado póst mortem).



ASSIM FALOU ZARATUSTRA -

Caminhemos, vejamos o que nos diz o filósofo em Assim falou Zaratustra (1883 a 1885), uma obra inicialmente em três volume, cujo autor sinalizava com a idéia de fazê-la com mais três tomos, tendo, todavia, escrito apenas mais um, completando quatro compêndios que foram unificados quando de sua publicação. É belo, poético, paradoxal, anunciador de "boas novas" a espíritos livres.

Desde a escolha do título - Zaratustra - que remete a um menino persa que nasceu sorrindo, destinado a colocar em rebuliço a mente humana e restringir o poder da religião - , já se prenunciava uma quebra com o tradicional, uma ruptura a tabus religiosos.
Todavia, além do título, inexiste qualquer ligação com o sábio persa.

Com uma filosofia focada na transmutação se antevia, nessa obra literária, o que  estava a caminho: uma nova mensagem e, sob esse ângulo, Nietzsche mostrou-se inigualável.

 O livro nos fala, numa linguagem linda, poética. A início, sobre um sábio que após dez anos de recolhimento , rodeado apenas por montanhas e seus animais: a serpente e a águia, representando o conhecimento e o orgulho, decide agradecer ao "sol" e descer para junto de seus semelhantes, encontrando um viandante, homem santo, surpreende-se que aquele não soubesse que "Deus está morto". Entrando na cidade anuncia a chegada de um "super-homem" e constata a frieza dos homens, ressaltando a idéia da solidão.
                                                       

Nessa obra, Nietzsche, se propõe de forma mais direta a revelar, sob uma ótica própria como enxerga o mundo,  o desejo de tornar-se, de vir a ser, que é o devir, "a água corrente que fluindo o tempo todo permanece a mesma",  ressalta, ainda, a semelhança do eterno embate apolíneo-dionisíaco de construção e desconstrução, de modos de ser. O filósofo busca demonstrar a não substância, aquilo que não é a essência, não é dominante, não se perpetua em modelos eternos, qual seja: a disputa de forças, o jogo das causas, o agitar-se incessante e contínuo  de um universo instável que, permanentemente, se faz e se desfaz . 


Vislumbra-se, por assim dizer a necessidade de se estabelecer o caos para se chegar a Luz. No caminhar do autor são estabelecidos três momentos de transição . inicialmente com o espírito - sólido - que se mostra "pesado" como um camelo, em resposta ao fardo que carrega consigo mesmo e, dessa forma, corre solitariamente pelas areias do deserto (mundo); num segundo instante há a mutação do camelo em leão, quando o espírito se descobre e luta por sua liberdade para e assim tornar-se senhor de seu próprio destino; finalmente há a transmutação em uma criança, significando o esquecimento do conhecimento anterior, a inocência e portanto abertura a novos saberes, um novo recomeçar e afinal o devirUm rodopio, um deslocamento, uma perfeita harmonia . Há por conseguinte uma introdução à filosofia para o amanhã.

GENEALOGIA DA MORAL -


Ao nos debruçarmos sobre os dicionários de filosofia na tentativa de conceituar "genealogia", em sua primeira dicção vamos encontrar:" Em seu sentido corrente, designa o estudo e definição da filiação de certas idéias." Na filosofia o vocábulo surge com Nietzsche, em acirrada crítica e discussão da origem dos denominados valores morais, bem como das chamadas categorias filosóficas que na percepção nietzscheana, disfarçavam  esses valores e verdades estabelecidas no interesse e a serviço de indivíduos.

Fac simile
Na obra em comento, vê-se, repetidamente as palavras como juízos de valor, bom, mau, bom e ruim Ressentimento. Má Consciência. Ideal ascético.  Estabelecendo seu ponto de partida na dualidade do denominado juízo de valor, qual seja:  bom, mau; bom, ruim. O filósofo principia o que irá se tornar uma das mais discutidas de suas teorias.

 Polêmico, propõe  a inquietante tese acerca da origem verdadeira dos valores  “bem” e “mal”, indagando, também,  sob que circunstâncias o ser humano urdiu para si esses juízos de valor “bom” e “mau" e interroga sobre a existência de algum valor  a essas concepções e se essas  impediram ou realizaram, até aquela ocasião, o desenvolvimento do homem.

Põe, portanto, os valores morais tradicionais como interpretações.  Fundamenta seu pensamento, alternando e analisando, o que seria apreciação e depreciação da vida,  cônscio de que não se deve conceber os valores e as verdades intrinsicamente, nelas mesmas, mas, condicionando-lhes uma razão de ser somente quando relacionado à sua procedência.

Na primeira parte de sua crítica - genealogia da moral, indo além do bem e do mal, Nietzsche se vale de um procedimento interpretativo  da hierarquia dos valores morais, ressalta duplas apreciações que manifestam propensões morais inversas, rotulando-as como  a moral do senhor e a moral do escravo, estabelecendo, a partir de então, uma inversão sob a  constatação de que  significação aos chamados valores morais, somente é conferida através dos fracos, dos escravos.

Outra Edição
Cáustico em relação ao Cristianismo, aponta a Igreja como opressora, manipuladora e que através do sacerdócio opera a transmutação do doente em pecador, usando para esse fim o recurso de mudar a direção do ressentimento. Assim o filósofo responsabiliza a Igreja, pela introdução da culpabilidade no seio da humanidade. 

 Para Nietzsche a religião tem o condão de negar a vida real, incutir nos homens a idéia de um mundo superior e, também, que a vida terrena, o mundo em que vivemos, tem como função apenas servir de meio para a consecução de um fim, que seria o paraíso. Nietzsche sintetiza o seu pensamento em relação ao cristianísmo dizendo: "  O cristianísmo deu a Eros veneno para beber - ele não morreu é verdade, mas degenerou em vício."

O filósofo descreve o céu como sendo a recompensa do homem por ter sido fraco, destituído de paixão, vigor,  manietado por uma cultura que o domina, arranca-lhe o desejo, a potência. Em contrapartida diz que essa moral hipócrita que aprisiona o homem é totalmente contrária a causa primeira, fundamento e base que norteia o viver: o princípio  da expansão da força. A vontade de ter ou fazer, de possuir ou gozar, a cobiça, a ambição, o apetite, o querer, demonstram a força vital que conduz o homem livre das amarras da religião.

Criticando os valores morais tradicionais  Nietzsche,  busca, inicialmente, a origem das dualidades: "bom, mau" - "bom, ruim", decorrido todo o processo genealógico o filósofo diz que não há como coexistir a moral e a vida, a primeira sufoca a segunda, desfigurando-a. Para o homem sobreviver, segundo a sua natureza, terá que aniquilar a moral, assim a destruição da moral será a libertação da vida, plena e potente.  Desse modo, inexiste culpa e/ou  pecado, tudo é interpretação.

 Esta é, pois, uma obra destinada a gerar polêmicas.

 CREPÚSCULO DOS ÍDOLOS - 

 Fios invisivéis e cruzados unem as obras de Nietsche, um filósofo decidido a desestruturar, até a última fronteira de verdades pré-estabelecidas, as quais denomina de ídolos.  Em sua  obra "Crepúsculo dos Ídolos ou Como se filosofa com o martelo", escrita no ano de 1888, no qual o autor escreveu freneticamente, permanece com a mesma linha de intelecção, constituindo-se fomento da maior relevância e, indubitavelmente, incentivo ao debate.


Desconstruir
O livro trata máximas como se fossem flexas, disparando-as e contraditando-as. Em seguida aborda o que chama de "O Problema de Sócrates", qualificando a equação Socrática de razão=virtude=felicidade,  a mais bizarra equação então existente. Nesse mesmo caminho questiona que onde a autoridade  é parte de bom costume,  onde não se fundamenta, mas se ordena, o dialético é uma espécie de palhaço.



Múltiplas idéias
 Como um todo a obra  faz remissões, introdutorias ou não. Registra com realce a acepção negativa de verdades estratificadas, funcionando como se fosse uma declaração de guerra, aos ídolos, aos deuses, às verdades.  Em seu trabalhar desconstrutivista Nietzsche fere de morte a moralidade cristã (tema recorrente);  insiste nos  "grandes equívocos da filosofia";  dispensa Kant e o seu pensar filósofico, abrindo exceção apenas para Heraclíto que afirma " o ser é uma ficção vazia",  tudo  em contrariedade a "adoração da razão"; continua e se opõe a idéia de um mundo real que existiria além do aparente; fulmina, por assim dizer as idéias modernas e seus representantes.




Há no livro  ataques continuados, são tantos e tão diversificados que montam um quebra cabeças  dos assuntos e posturas do autor. Observa-se que Crepúsculo dos Idolos faz uma síntese de toda a produção cultural de Nietzsche e, ao mesmo tempo, em que declara guerra ao que é estático, as verdades pré-estabelecidas.  O título é uma analogia  a ópera de Wagner, " Crepúsculo dos deuses". 

.Ainda e em relação a expressão "como se filosofa com o martelo", deve ser compreendida como fazer da filosofia um objeto capaz de colocar  abaixo  as mais fortes estruturas  possíveis. O martelo seria a pena que transmite para o mundo a queda dos ídolos e/ou o martelo seria, principalmente, o peso pesado, uma marreta, para derrubar, destruir os ídolos e bem assim como algo gerador de audiofrequência que ao tocá-los - aos ídolos -, pudessem revelar, para os homens, que são vazios. 

Mais que uma obra filosófica, Crepúsculo do deuses é a visão, os pontos de vista do autor  acerca do Cristianismo, dos ídolos como idéias pre-concebidas, os dogmas, a Igreja, a filosofia então praticada, enfim tudo aquilo que se opõe a visão livre adotada por Nietzcshe.


ECCE HOMO -

Famosa expressão romana usada por Pôncio Pilatos ao apresentar Jesus Crito aos Judeus, é também o título da autobiografia de Nietzsche, escrita em outubro de 1888, quando o autor contava apenas quarenta e quatro anos, é a sua última manifestação como filósofo, psicologo e anticristo. É, entretanto, inquietante suas idas e volta, persegue o Cristianismo verberando contra ele as mais fortes acusações e, inexplicavelmente, resgata elementos eminentemente cristãos para sua filosofia, como o fêz por ocasião de seu canto do cisne.  Sendo, possivelmente o seu livro mais controvertido, engana-se quem a imagina como mera biografia, escrita pouco antes da crise que o isolou do mundo, é uma apaixonante confissão e interpretação de suas lutas e de sua obra. Nela mostra preocupação ante a idéia de ser idolatrado e, em função de tal expectativa tece sua narrativa registrando a sua humanidade, em detrimento de ser visto ou mesmo confundido com um santo.


Todavia, vislumbra-se que o filósofo embora repugnasse ser idolatrado ou chamado de santo, mostrava, claramente, que gostaria de ser usado como modelo mas, nunca imitado. Em Ecce homo Nietzsche extrapola seu logos, mesmo na condição de grande pensador. Incluído entre os filósofos de maior ascendência de nosso tempo, diz, num discurso apaixonado quem é capáz de exercer influências sobre ele,  fala de seu elã, da origem de seus escritos, de sua vida e suas metas, o fazendo de forma autofágica para  que se pudesse ter uma visão dele mesmo, segundo o seu julgamento.

Dono de estilo totalmente diferente, Nietzsche demonstra desde cedo sua originalidade e, sendo incomum, nada mais natural do que por um meio ou por outro, macular aquilo que considerava o seu refúgio.

Assim, nada mais lógico que o ataque aos valores morais e a religião, até mesmo pelo fato de ter nascido e vivido, até a sua adolescência, num lar impregnado de cultura religiosa e de exacerbados valores morais. Eleger a moral como seu grande alvo, fez com que o filósofo travasse, nessa seara, sua grande batalha, assumindo a luta, a sua não aceitação, como se já representasse a vitória.   

Abertamente egocêntrico Nietzsche é, apesar de tudo, um divisor de águas. A filosofia que precedeu a esse filósofo é, revista, repaginada a partir desse que, sem dúvida alguma, foi um critico terrível da  filosofia tradicional do Ocidente, da religião e da moral. É bem visível e quase palpável o niilismo  do filósofo quando diz:

          "Por que eu sou tão inteligente?
Por que eu sei algo mais? Por que, acima de tudo, eu sou tão inteligente? Jamais me pus a pensar a respeito de perguntas que não são perguntas – eu não me esbanjei… Dificuldades religiosas de verdade, por exemplo, eu jamais as conheci por minha própria experiência. Sequer me dei conta até que ponto eu deveria me sentir “pecaminoso”. Do mesmo modo me falta um critério confiável para saber o que é um sentimento de culpa: segundo aquilo que se ouve a respeito, um sentimento de culpa não me parece nada digno de atenção…"

DA CONCLUSÃO -

Fechar esta abordagem sobre Nietzsche, ainda que muito simples, deixa um quê de desencanto. Mais que um autor, mais que um filósofo ELE foi alguém que veio para tocar, eivar de dúvidas situações cristalizadas, conceitos seculares e disseminar a contrariedade, as ideias de descontrução de ídolos, a beleza e, também o desconcertante niilismo.


Há algo, na filosofia de Nietzsche que me faz lembrar uma estória para crianças e, simultaneamente me  leva a recordar o Pequeno Princípe de Antoine de Saint Exupery que, feito para gente pequena, tornou-se um clássico para gente grande.


A luz sob as trevas do eterno, a novidade em contrapartida ao  estratificado, a desconstrução de ídolos ante o desnudamento de velhas idéias pre-concebidas, o filosofar com o martelo que destroi a inocuidade lembra-me:

"Que havia um reino muito distante onde o rei era absoluto. Tudo nele era real e verdadeiro. Assim, tão confiante e arrogante jamais poderia  imaginar que seria ludibriado por alguém. Certo dia, um palaciano daqueles que bajulam o tempo todo, voltando de uma viagem proclamou aos quatro ventos a existência de um fantástico alfaiate, que produzia roupas originais, lindas e que os homens que as vestiam eram os mais belos, inteligentes e diferentes, pois não mais se submetiam as mesmices da moda que vigorava até aquela ocasião. 

 
O rei ficou ansioso por conhecer a criatura que estava mudando todos conceitos em elegância, ensinando aos escolhidos como sobressair aos demais e entendeu que ele seria o mais bem vestido e portanto o mais bonito e o mais sábio, até porque ele escolheria o material a ser usado na confecção.  O pobre alfaiate foi apresentado ao Rei, que de imediato exigiu exclusividade - pois só ele poderia conhecer os segredos da alfaiataria; exigiu que somente a ele coubesse a escolha do material a ser usado, pois desse modo só ele teria acesso.

O alfaiate mergulhou em profunda tristeza. Um dia porém acordou sorridente e pediu para ser conduzido à presença real. Ante a majestade declarou que já idealizara a roupa perfeita, que de tão primorosa apenas poderia ser vista pelos inteligentes. Pediu ao rei as mais valiosa gemas e ouro para adquirir o tecido, pois no reino não poderia encontrá-lo. O monarca atendeu a tudo que fora pedido. Sua inteligência não o trairia.

 Vaidoso como ele só, mandou que seus homens de confiança espalhassem por todo o reino a peculiaridade do traje. No dia aprazado, o alfaiate que já se instalara no palácio real pede que o governante ordene uma grande festa para que todos possam ver a roupa nova do rei com todo aparato necessário à ocasião.  Pede, ainda, ao soberano, que vista-se no quarto de costuras, auxiliado pelo alfaiate e que se envolva numa peça de seda, retirando-a apenas para o desfile real. Sua majestade desejoso de romper as tradições que, nessa nova ótica não podiam ter qualquer importância, eram apenas roupas, enquanto a nova era a certeza da sabedoria, da inteligência.

 Tão inflado em seu orgulho e arrogância não se deu conta que, após vestí-lo e fazer apologia do tecido invisível ao homem médio, o alfaiate desapareceu de suas vistas. O Monarca, cheio de si, deixa o palácio, retira a seda que o cobria e põs-se a caminhar imponente ante a extensa procissão que se formara para acompanhá-lo. Silênco total, nada se fazia ouvir, exceto as respirações ofegantes, os corações descompassados, a voz do arauto incitando o povo para ver a roupa nova do rei com o olhar da inteligência, até que uma criança, que não se prendia a rótulos, era pura, não tinha pretensões de ser o mais inteligente, disparou o seu veredito: o rei está nú...................oh......................os súditos se digladiavam, alguns muito inteligentes se esforçavam em dar cor e contorno a roupa nova, outros que não abriam mão de seu conceito de nudez, fizeram coro com a criança, o rei preocupado se apalpa, se assusta, se envergonha.

Se encoleriza, não por ter sido roubado, mas poque fora enganado. Sua crença, sua auto confiança, seu respeito por si, tudo fora abaixo e, qual a explicação? A nova roupa (teoria) livrava-o dos rituais que necessitava para vestir-se, do peso, das amarras, dava-lhe liberdade.....mas, até onde atendia as necessidades do rei? Ele estava nú, envergonhado e sem nehuma proteção....as roupas velhas protegiam-no da nudez, do frio, dos olhares críticos de seu súditos, do riso ingênuo das crianças, eram confortáveis apenas necessitavam de equílibrio, o excesso de pedrarias, o apego exagerado, o culto a vaidade isso é que determinava o desconforto. O rei caindo em si volta a palácio, reflete e se dá conta que destruir ideias e conceitos tão sedimentados, com certeza teria o seu preço.


Pois é, Nietzsche é perfeito naquilo que se propôs - revirar a filosofia de cabeça para baixo - mas até onde está certo ?  Até onde vai a lucidez de suas idéias brotadas de uma mente constantemente atormentada pela dor? Deus está morto? Como, se vive no coração, nós lábios, na esperança de bilhões de homens e mulheres? E Nietzsche, pobre mortal, filósofo genial, será que finalmente, após longos anos de expiação terrena encontrou Deus?

 Jamais poderia ter conhecimento da existência desse filósofo único sem me deixar tocar pela beleza de suas obras, pela originalidade de suas idéias. Porém, jamais poderia ignorar essa chama que me acorda todos os dias e que me faz caminhar, independente de tudo. Essa certeza maravilhosa, Deus existe, está dentro de nós, o livre arbítrio não nos divorciou Dele, apenas delimitou nossas responsabilidades.

Ao contrário de Nietzsche, eu acredito num Deus que não saiba dançar, posto que é  a própria música que nos embala, a brisa suave que nos rodeia, a luz maravilhosa que saúda o amanhecer e reverencia o anoitecer, o SER que habita entre nós se fazendo igual.  Para chamá-lo não necessitamos de licença, erudição, poderio econômico, sequer falar, precisamos tão somente dirigir o nosso pensamento e nos fazermos receptivos.

Dessa feita ainda que não tenhamos um texto divertido, certamente temos um boa reflexão. Comentem, as críticas são bem vindas, aparam as arestas,  burilam o que ainda se encontra num estágio primitivo. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Mitologia Nórdica - Parte IV



 FECHANDO O CERCO -

A consideração das origens na Mitologia Nórdica poderia nos levar a extremas divagações, uma vez que em todo relato mítico há fronteiras onde os seres  perscrutados mudam, transformam-se conforme as fontes ou os narradores, havendo, invariavelmente, oscilações e ambivalência. 

Os limites ali são sempre presentes, embora relativizados, tanto na efetiva diferença entre os mesmos relatos e  historiadores diversos, como no potencial  que cada um dos expositores demonstra, seja por ressaltar o aspecto da semelhança e estender correlações ou  por acentuar as diferenças e restringir contornos ricos em detalhes.

A experiência nos mostrou situações recorrentes. A partir do nada surgiram os deuses, o cosmo, a vida, o desejo, a compreensão destes e de sua conexão com o mundo  exterior, o humano. Igualmente e de forma dramática constatamos a submissão dos menores à força, a um poder centralizado, subjugando deuses menores, semi deuses, entes  e  homens.

 O fato é que a leitura da absorção do indivíduo pela  cosmogonia Viking, mostra,  além da tradição  enraizada, certos fatores como a generalidade com outras visões mitológicas dominantes, a saber: concepções teocêntricas das coisas, a idéia de que todo poder vem dos deuses, a dependência de crenças e esquemas mentais, imagens épicas, lirismo, heroísmo, paixão, dor, momentos de magia e credibilidade.

Vejamos um pouco mais.


AS VALKIRIAS – 

Servas de Odin
Seres mitológicos as Valkírias são divindades, que serviam a Odin  e permaneceriam virgens. Podiam ser filhas de deuses com mortais ou de mortais com deusas ou de simples mortais. 

 A grande finalidade dessas heroínas míticas era apontar os mais heróicos dentre os que haviam perecido em combate e levá-los para Valhalla, aonde eles se tornariam  einherjar - guerreiros de Odin,  mortos e que, por sua bravura se destacaram, sendo recolhidos pela valkirias,

Assim, quando não estavam assistindo aqueles que eram feridos em combate, estavam levando almas para os salões de Valhalla. As Valkirias supervisionavam as batalhas de Midgard - o mundo dos homens - privilegiando guerreiros que gozavam de suas preferências. 

As belas guerreiras
Na Edda 35, sobre as Valkirias, há o relato que “Odin manda-as para cada batalha". Gunn (luta) e Rota (turbilhão), que são duas Valquírias e a mais nova Norn, chamada Skuld: a que está sendo - o tempo presente, o trio vagueia escolhendo quem irá morrer e gerencia as mortes.

Retratadas como belas mulheres, sensuais e fortes, as guerreiras tem armaduras que "lançam uma luz trêmula estranha, que pisca ao longo dos céus do norte, fazendo o que os homens chamam de" Aurora Borealis ", ou" Luzes do Norte. São


Servas de Odin
 As principais Valquirias são: Brynhildr, cujo nome significa " cota de malha de guerra ou, "batalha". Sigrdrífa que significa "Aquela que conduz a vitória." Sigrún a "Conhecedora dos mistérios ou magias da Vitória."  Svava, golpe; Ölrún, Svanhvít , Alvitr, Þrúðr que é filha de Thor

Outras fontes indicam que algumas Valquírias eram, ao mesmo tempo, diferentes  personagens da mitologia nórdica, como Gunnr que aparece no Runestone Rok  e Skögul que ainda está em uma inscrição rúnica no século 13, em Bergen .


Filha de Odin
A mais importante das Valkirias.  Era uma das filhas de Odin com uma humana e sua Valkiria predileta. Representava  o melhor aspecto da relação pai-filha do povo nórdico.

 Traída numa trama entre Frigga, Odin e Sigmund, Brynhildr perde todos os seus dons divinos por apresentar emoções humanas e, assim, como uma filha que perde tudo ligado a sua antiga família, ela torna-se humana e aguarda em sono profundo num circulo de fogo a chegada do guerreiro valoroso para quem vai ser entregue como esposa e mulher.

Brynhildr e Segfried
 O guerreiro será escolhido por Odin, como o pai que decide com quem a filha se casa. O eleito é Sigfried, filho de Sigmund e neto de Odin. Ela é a filha que cresce e deixa a família para trás, com todos as suas qualidades formando uma nova família.

A felicidade é algo que escorre por entre os dedos dos jovens, atingidos por intrigas familiares e desejos despertados pela beleza de Brynhildr, enfrentam a dor, a separação e a morte.

OS ELFOS -
A beleza dos elfos
A definição mais remota existente dos Elfos nos é dada pela mitologia Nórdica e, ainda que não existam descrições mais velhas ou mesmo atual, a experiência de criaturas etimologicamente ligadas aos Elfos em diferentes culturas, reflete, profundamente, que a crença em elfos era compartilhada entre todas as tribos Germânicas, sendo comuns não apenas aos antigos Escandinavos.

Entes mágicos
 Os Elfos parecem ter sido concebidos como seres humanóides, poderosos, hábeis e incrivelmente belos. Nesse universo mitológico homens famosos podiam ser alçados ao status de Elfos, após a morte.

 Conta o mito que assim ocorreu com o rei Olaf Geistad-Elf; com o herói ferreiro Völundr que é descrito como o  ‘Regente dos Elfos’  e/ou ‘Rei dos Elfos, no poema Völundarkviða, cuja prosa inserida muito depois, também o identifica como rei dos ‘Finns’, um povo Ártico respeitado por sua magia xamânica.


Inúmeras  são as  sagas envolvendo os Elfos, entre essas a de Thidrek, uma rainha humana, que é  surpreendida ao constatar que o seu amado e de  quem estava grávida é um elfo e não um homem.

 No épico  de Hrolf Kraki há um soberano que é chamado de Helgi, esse estupra e engravida uma Elfa vestida de seda e de espetacular beleza, que é perfeita e em sua nudez revela a mais bela mulher que  olhos reais já viram.

Bela elfa
Assim, Elfos e homens, nas ancestrais crenças viking, se envolviam, se reproduziam, gerando criaturas fantásticas. Desse modo a rainha humana que amou um Elfo deu a luz ao herói Högni, por outro lado  a Elfa violentada por Helgi gerou Skuld, que posteriormete se casou com Hjörvard, que tornou-se assassino de Hrólfr Kraki. 

 A saga de Hrolf Kraki ressalta  que  Skuld, meio-elfa, meio humana,  era versátil em magia (seiðr), tornando-se, em função disso. praticamente invencível em batalha. Conta ainda o mito que ao ver  seus guerreiros serem mortos, ela os re-erguia  para que permanecessem lutando. Só era possível capturá-la se aquela não tivesse tempo para  evocar seus exércitos, que, inclusive, incluíam guerreiros élficos.

Gandalf o cinzento
No Heimskringla e na Saga de Thorstein, Filho de Viking, está  registrada uma genealogia de reis locais que governavam Álfheim, que equivale à moderna Bohuslän, e uma - linhagem - desse soberanos, tinha sangue élfico. 

 Eram infinitamente belos e destacavam-se dos humanos.  O último dos reis é chamado Gandalf. Na poesia e nas sagas nórdicas, os Elfos são ligados aos Aesir pela frase muito comum: "Aesir e os elfos", que presumivelmente significa "todos os deuses".


Elfos e fertilidade
Semi-deuses, com uma aparência humana, perfeitos, ágeis, cheios de encantos,  os Elfos eram  associados com a fecundidade e ao culto dos antepassados.

 A idéia dos Elfos, parece semelhante a doutrina animística na qual todos os seres da natureza são dotados de vida e capazes de agir de acordo com uma finalidade; estão e são espíritos da natureza e dos mortos, comuns a  quase todas as crenças humanas.


Espíritos protetores
Habitantes  das florestas, das águas  e do ar, tinham um rei, de nome Alf que governava uma região chamada Alfheim, e todos os clãs eram relacionada aos Elfos. Eram os mais belos entre todos os povos. 

Ali destacavam-se Elfos, que o relato mítico diz que estão entre os espíritos "seguidores" e "protetores" a um só tempo.


Como aos espíritos, aos Elfos também não eram impostas quaisquer  limitações corporais e tinham a capacidade de atravessar paredes e portas à semelhança de espectros. Diz-se que os elfos são o correspondente  Germânico das ninfas da mitologia Greco-Romana, e os vilie rusalki da mitologia Eslava.
 
OS ANÕES  -

Anões mineradores
Os Anões, de acordo com a tradição nórdica, surgiram dos vermes que carcomiam os restos mortais do gigante Ymir; segundo outra variante, nasceu dos ossos e do sangue de outro gigante da mesma linhagem. Como os demais entes os anões tinham chefe e obrigações distintas; eram exímios nos trabalhos de forja, mineração e ourivesaria.

Os Anões eram seres da mesma categoria dos elfos, dos quais constituíram uma casta particular; normalmente viviam sobre a terra; apresentavam-se superiores, inteligentes, muito embora não fossem belos. A maioria deles  conhecia o futuro; de pequena estatura usavam grandes barbas a sugerir fortaleza, autoridade. 


Reis da forja
 Senhores dos metais, além de habilíssimos ferreiros e forjadores, muitos deles trabalhavam nas minas e por isso os humanos que mais mantinham contacto com os Anões, eram os mineiros que também viviam trabalhando nas mesmas regiões desses diminutos homens.


Os Anões além de ferreiros e armeiros  eram, também, os senhores dos metais; deparar-se com um anãozinho nas galerias subterrâneas, normalmente significava a existência de um bom e belo filão, uma vez que eles, excelentes mineradores, apenas labutavam onde a terra ocultava valiosos tesouros.

 “Um tesouro é célebre na poesia épica alemã: O Rei dos Nibelungos, do qual o anão Alberich era o guarda; Siegfrid, o herói dos Nibelungos, apropriara-se desse tesouro fabuloso depois de ter vencido o anão Alberich e ter dele exigido juramento de fidelidade.”

Grandes ourives
 Competentes artesões, os homenzinhos forjavam não só as armas dos deuses, mais também as jóias e brincos com os quais as divindades se adornavam; alguns artefatos famosos foram forjados pelos Anões, eles fundiram o famoso martelo de  Thor; o  navio mágico e o javali de ouro para Freyr  ; para  Sif os Anões criaram os seus cabelos de ouro; também o colar de ouro que  separou  Freyja  de Odin e para esse, os mestres ferreiros cunharam a lança Gungnir a que nada podia deter, bem como o anel Draupnir, que a semelhança do anel de Andnari, tinha o poder de multiplicar as riquezas daquele que o tivesse em seu poder. 



Anões guardiões
 Diz a mitologia nórdica que há um quarteto de Anões, guardiões dos quadrantes. Sendo eles Nordhri (Norte), Austri (Leste), Sudhri (Sul), e Vestri (Oeste). 

Os Anões são as criatura mitológicas mais populares de todo o universo viking; na Islândia os camponeses do século XVlll, apontavam os  penhascos escarpados, montes e montanhas asseverando, com total confiança, que lá existiam milhares de pequenino anõezinhos de excelente aspecto.
 
DEMÔNIOS -

Demônio da noite
O povo Germânico definia os Demônios como personificações das forças, das formas da natureza e dos fenômenos, fossem  quais fossem, independentemente de maiores explicações. Sendo este um conceito basilar, encontrado em todo os povos teutônicos; variavam somente as denominações e particularidades, de tribo para tribo, de região para região, mas os Demônios permaneciam  os mesmos.


O Rei dos Elfos
Assim para o universo mitológico Nórdico os Demônios  não eram divindades decaídas nem mutação tardia dos espíritos dos falecidos. Vários destes entes fantásticos continuam a viver, nos dias atuais, no ideário popular. 

O Erlkoening, que Goethe, extraiu de uma antiga canção dinamarquesa, o "Rei dos Elfos", é ainda capaz de fazer tremer muitas pessoas esclarecidas ou não, tal a forma com que foram gravadas no subconsciente das pessoas esses bizarros conhecimentos e poderes demoníacos.

Rübezahl
A relação  dessas bestas é extensa, entre muitos podemos enumerar: o Rübezahl que é um espírito das montanhas; os colossais Dovrefjeld das rudes montanhas da Noruega;  a serpente de Midgard, o lobo Fenrir, o Wilde Jäger, "O caçador Selvagem", o Watzmann que é mais um  espírito das montanhas, sendo esse da região dos Alpes bávaros, cujas façanhas são transmitidas através de canções populares.

Como acontece em boa parte de nosso universo, apesar do conhecimento alcançado pela humanidade a mitologia ainda se encontra  muito viva, principalmente no aspecto do horror experimentado à simples menção dos chamados Demônios, sempre pintados com cores fortes, figuras sinistras, antecedidos ou seguidos de sons e odores desagradáveis.



TROLLS -

Troll
Um Troll é um indivíduo de uma casta assustadora, horrenda, mítica antropomórfica da mitologia nórdica. A primeira vista correspondem, mais ou menos, aos gigantes nórdicos, não obstante alguns serem menores em estatura; podem ser de  aspecto diferentes entre si, tais diferenças têm proporcionado uma gama enorme de gigantes demoníacos - parecidos com os ogros da Inglaterra (também chamados de Trolls) – na espécie desses tortuosos o mais conhecido  dos humanos são os Trolls  do deserto. Podem viver no subsolo, em morros, grutas ou montes. 
Farejador

Há muitos contos sobre os Trolls, que também  são chamados trows, denominação esta que foi  tomada a partir do domínio da linguagem nórdica, quando as ilhas  Faroe, Orkney e Shetland,    tornaram-se possessão Vikings. Na cultura Escandinava - portanto bem mais atual -  os trolls tinham a capacidade de farejar o sangue cristão


Troll ciclope
O significado da palavra troll é desconhecida. Ele poderia na origem significar sobrenatural ou mágico, aliado a sobreposição de maligno e perigoso. Outra hipótese plausível é que isso expressa "alguém que se comporta de forma violenta". Na lei sueca da idade antiga, troll  era um tipo especial de mágico, com a nítida finalidade de fazer mal. Além disso, nas fontes primeiras da mitologia nórdica, Troll pode significar qualquer ser sobrenatural, incluindo, sem se restringir, aos gigantes nórdicos (jötnar).

GOBLINS 

A criatura raivosa
Diz o mito Nórdico que um Goblins é um duende, um ente do mal, aborrecido,  maldoso, muitas vezes delineado como se fosse um fantasma grotescamente deformado ou gnome-like, que pode mudar sua estatura apresentando-se ora como um anão, ora como um homem.

 Aos Goblins são conferidos  um caráter conflitante, múltiplas aptidões, índoles e aspectos, em função da história e do país de origem. Em  algumas ocasiões goblins foram rotuladas como  seres pequenos, importunos,  relacionadas com o brownie celta. 

Além das falhas de caráter já enumerados para os Goblins  aqueles eram normalmente associados ao mal.  Considerados na cultura Nórdica feios e assustadores, feiticeiros, afeitos a  estragarem a comida, travam guerras contra os gnomos.

Noutras mitologia os Goblins são dotados de extraordinária força. Pouco inteligentes, de hábitos selvagens, habitam as cavernas  ou choupanas de paus e peles de animais.  Acostumados as intempéries desenvolveu grande capacidade de sobrevivência, sendo em razão disso encontrados em todos os lugares, habitando  montanhas, pântanos, desertos, pedreiras, florestas ou cidades.



Os Goblins aliam-se, constituem bandos, com uma comunidade  frágil, a guisa de uma sociedade primitiva, onde o mais forte decide.  Suas armas são: a clava, o machado de pedra, a zarabatana, além de pequenas lanças e pedras. Aos Goblins são imputadas as constantes desavenças, brigas e dificuldade de entrosamento com outros seres.



O NAVIO NAGLFAR -

Navio dos mortos
Há na mitologia Nórdica um assustador navio, construído com as unhas dos guerreiros mortos e denominado Naglfar. Essa seria uma maneira de transporte dos homens na cultura nórdica, o navio assombroso, feito das unhas de homens mortos, que levaria os gigantes do mal  para o embate final contra os deuses, por ocasião do Ragnarok, o conflito que ocasionaria o  fim do mundo .

No Ragnarok, os gigantes, opositores eternos dos deuses, atacariam o reino celeste de Asgard, e o mundo - compreendendo deuses e seres humanos - seria aniquilado. A Norse acreditava que quando chegasse o Ragnarok, lobos iriam devorar o sol e a lua então as estrelas apagar-se- iam  do céu.


Jormungand
 A terra e as montanhas sacudiriam tanto que todos os monstros e gigantes que se encontravam presos pelos deuses recuperariam a liberdade. Jormungand, a serpente gigantesca que habitava no fundo dos oceanos, se ergueria   colérica vindo para a terra, e este desastre faria  o navio Naglfar se desprender  de suas amarras. Solto deslizaria em águas correntes e violentas na direção a Asgard, capitaneado por um gigante chamado Hrym.


A doação dos mortos
Naglfar era ao mesmo tempo o nome de um antigo gigante, o primeiro esposo de Nott (Noite). Naglfar ignifica "transmissão feita de pregos", era uma constante ameaça aos deuses, aos humanos, a todos.

Em razão desse navio do infortúnio ser feito das unhas de cadáveres humanos, era hábito dentre os antigos nórdicos  aparar as unhas curtas de seus mortos, assim, confiavam que estariam se protegendo e  evitando o fim do mundo, mesmo que para cada morto houvesse apenas uma pequena contribuição. Não doar a matéria prima da construção  da terrível embarcação, a seus inimigos, aliviava e enchia de esperanças o povo Nórdico.

Concluindo-

Chegamos ao final, "vimos" uma cultura, a um só tempo, bela e intensa, onde os sentimentos estão sempre presentes e os personagens são profundos naquilo que os caracterizam.  Não há meio termo. Os amores, as dores, os afetos e desafetos, continuamente produzem esplêndidas aventuras. Enganam-se aqueles que atribuem a mitologia nórdica apenas selvageria,  tragédias, carnificina,  há nesse universo muito encanto, sedução , brilho e beleza. Não esgotamos o assunto, apenas viajamos nas asas da imaginação.  
  
Em nossa próxima viagem podemos  visitar a filosofia e um de seus grandes representantes, nascido na Europa central, nas margens do mar do Norte e com um incrível talento para produzir discussões. Que tal “desconstruir” conceitos? Venham, vejam. Conto com vocês.